A MEDITAÇÃO BUDISTA KADAMPA
Embora queiramos ser felizes o tempo todo, não sabemos como e, por causa disso, geralmente destruímos a felicidade que temos, gerando raiva e outras delusões.
Problemas, sofrimento e infelicidade não existem fora da mente; são sensações e, portanto, parte da nossa mente. Assim, controlar a mente é o único meio de por um fim definitivo aos nossos problemas e de criar felicidade para nós e para os outros.
As práticas de meditação budistas são métodos efetivos para controlarmos a mente.
Meditação é um método para familiarizar nossa mente com virtude. Quanto mais familiarizada com virtude nossa mente estiver, mais calma e pacífica ela se torna. Quando nossa mente está em paz estamos livres de preocupações e desconforto mental e experienciamos verdadeira felicidade. Se treinarmos nossa mente para se tornar pacífica, seremos felizes o tempo todo, mesmo nas condições mais adversas. Mas se nossa mente não estiver em paz, mesmo que desfrutemos das mais agradáveis condições exteriores, não estaremos felizes. Portanto, é importante treinar nossa mente por meio da meditação. Há dois tipos de meditação: a analítica e a posicionada. Quando contemplamos o sentido de uma instrução de Darma que tenhamos recebido ou lido, estamos fazendo a meditação analítica. Contemplando profundamente a instrução, por fim chegamos a uma conclusão ou fazemos surgir um estado de mente virtuoso específico. Esse é o objeto da meditação posicionada. Tendo encontrado nosso objeto por meio de meditação analítica, concentramo-nos nele unifocadamente pelo maior tempo possível para ficarmos profundamente familiarizados com ele. Esta meditação unifocalizada é a meditação posicionada. Frequentemente a meditação analítica é simplesmente chamada de “contemplação” e a meditação posicionada, simplesmente de “meditação”. A meditação posicionada depende da contemplação, que por sua vez depende de ouvir ou ler instruções de Darma.
O propósito da meditação é acalmar e apaziguar nossa mente. Como foi mencionado, se nossa mente estiver em paz, ficaremos livres de preocupação e desconforto mental e, assim, experienciaremos verdadeira felicidade; mas se não estivermos em paz, acharemos difícil ser feliz, mesmo vivendo nas melhores condições. Treinando em meditação, nossa mente aos poucos se tonará mais serena e conheceremos formas de felicidade cada vez mais puras. Por fim, conseguiremos permanecer felizes o tempo todo, até nas circunstâncias mais adversas. Se treinarmos meditação de forma sistemática, por fim, seremos capazes de erradicar as delusões, que são as causas de todos os nossos problemas e sofrimentos. Desse modo, alcançaremos uma experiência de paz interior permanente. Então, dia e noite, vida após vida, experienciaremos unicamente paz e felicidade. No começo, ainda que nossa meditação não esteja indo bem, devemos lembrar que, pelo simples fato de nos esforçamos para meditar, criamos as causas para experienciar paz interior no futuro. A felicidade desta vida e de todas as nossas vidas futuras dependem da experiencia de paz interior, que, por sua vez, depende da ação mental de meditar. Já que paz interior é a fonte de toda felicidade, vemos o quão importante é meditar.
Os objetos utilizados para o foco na meditação devem ser virtuosos. Em geral, qualquer objeto virtuoso pode ser usado como um objeto de meditação. Se descobrirmos que, familiarizando nossa mente com um determinado objeto, ela se torna mais serena e virtuosa, isto indica que, para nós, aquele objeto é virtuoso. Se o oposto acontecer, saberemos que, para nós, aquele objeto é não virtuoso. Muitos objetos são neutros e não têm efeito positivo nem negativo sobre nossa mente.
Nessa seção são explicadas as partes de uma seção de meditação completa.
1. MEDITAÇÃO RESPIRATÓRIA
O primeiro estágio da meditação consiste em interromper as distrações e deixar nossa mente mais clara e lúcida. Isso pode ser obtido com a prática de uma simples meditação respiratória. Escolhemos um lugar tranquilo para meditar e sentamo-nos em postura de meditação. Podemos escolher a postura tradicional com as pernas cruzadas ou qualquer outra posição que seja confortável. Se desejarmos, poderemos nos sentar em uma cadeira. O importante é manter a coluna ereta, a fim de evitar afundamento mental ou sono. Sentamos com os olhos parcialmente fechados e dirigimos nossa atenção à respiração. Respiramos naturalmente, de preferência pelas narinas, sem tentar controlar a respiração. Vamos então prestar atenção no ato de respirar, percebendo o ar entrando e saindo pelas narinas. Essa sensação será nosso objeto de meditação. Procuramos nos concentrar nisso unifocadamente, como se nada mais existisse. No começo, nossa mente poderá ficar um tanto agitada, levando-nos até a pensar que a meditação está aumentando esse estado de agitação. Na realidade, estamos apenas tomando consciência do quanto nossa mente é ocupada. Seremos fortemente tentados a seguir diferentes pensamentos conforme eles surgem, mas devemos resistir e nos manter concentrados unifocadamente na sensação do ar entrando e saindo por nossas narinas. Se percebermos que nossa mente está divagando levada pelos pensamentos, devemos redirecioná-la de pronto para a respiração. Repetimos esse procedimento quantas vezes forem necessárias até que nossa mente se concentre na respiração.
2.MEDITAÇÃO ANALÍTICA
O objetivo de contemplar é conseguir trazer à nossa mente o objeto sobre o qual vamos meditar. Para tanto, devemos refletir sobre vários argumentos, contemplar analogias e pensar sobre as escrituras. É proveitoso memorizarmos as contemplações fornecidas no Novo Manual de Meditação, para que possamos meditar sem recorrer ao texto. As contemplações apresentadas no livro são apenas diretrizes, que podem ser completadas e enriquecidas com outros argumentos e exemplos que nos pareçam úteis.
3. MEDITAÇÃO POSICIONADA
Quando, por meio de contemplação, o objeto nos aparecer com clareza, deixaremos a meditação analítica e nos concentraremos nele unifocadamente. Essa concentração unifocalizada é a terceira parte da prática, a meditação propriamente dita. De início, quando começamos a meditar, nossa concentração é fraca; somos distraídos com facilidade e frequentemente perdemos nosso objeto de meditação. Portanto, é provável que inicialmente tenhamos que alternar entre contemplação e meditação posicionada muitas vezes em cada sessão. Para meditar sobre compaixão, por exemplo, começamos contemplando os diversos sofrimentos dos seres sencientes, até que uma forte sensação de compaixão surja em nosso coração. Quando ela surgir, meditamos unifocadamente sobre isso. Se a sensação diminuir ou a mente for desviada para outro objeto, retomaremos a meditação analítica a fim de restaurá-la. Depois de conseguir isso, voltaremos a reter a sensação com uma concentração unifocalizada. Tanto a contemplação como a meditação servem para familiarizar nossa mente com objetos virtuosos. Quanto mais familiarizados estivermos com esses objetos, maior será nossa serenidade. Treinando em meditação e vivendo de acordo com os insights e as resoluções desenvolvidas durante o treino meditativo, conseguiremos manter nossa paz mental continuamente, ao longo de toda a vida. Mais informações detalhadas sobre contemplação e sobre meditação em geral podem ser encontradas em Novo manual de meditação, Introdução ao budismo, Como transformar sua vida, Caminho alegre da boa fortuna, e Compaixão Universal (links para os livros no site da Editora Tharpa Brasil).